Ana Hikari, de Família é Tudo, reflete sobre pertencimento: 'Não luto sozinha' (2024)

Em entrevista à Revista CARAS, Ana Hikari celebra fase de amadurecimento da carreira na televisão com primeira vilã e fim de As Five

Ciclos se fecham e outros se iniciam. A primeira vez que conheci Ana Hikari (29) foi lá em 2017, nas gravações de Malhação: Viva a Diferença, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Hoje, quase dez anos depois, a série As Five, derivada do seriado global, chega ao fim e Ana é presenteada com sua primeira vilã em Família É Tudo, novela global das 7. “Eu brinco que, agora, sou do núcleo adulto!”, diz a atriz, em novo papo comigo, para CARAS. O tempo passou e, com seu talento, Ana conquistou o espaço que tanto batalhou. Espaço esse que ela não quer ocupar sozinha. “Quando fui a primeira protagonista asiática, me senti solitária. Hoje, não mais”, reforça.

– Ainda não tivemos outras protagonistas asiáticas na TV. Como é travar essa batalha?

– Eu não luto sozinha. A Bruna Iso, a Jacqueline Sato, a Bruna Tukamato, todas estão mobilizadas e discutindo. Tem gente que questiona como eu consigo um papel na novela se eu critico a Globo. Não é sobre criticar. Eu me posiciono e recebo um retorno positivo dos meus superiores. É óbvio que, dessa forma, não terei medo. Não posso me abster. Sei que não perco oportunidades, tanto que estou com uma personagem maravilhosa, pelo meu talento. Eles enxergam meus questionamentos como valor. Isso bate com os valores da empresa.

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– Você já enfrentou situações de preconceito. Como não desanimar diante disso?

– Eu ia amar ser só atriz! Queria só decorar meu texto e estudar meu personagem, mas diariamente me deparo com questões além do que escolhi ser. São questões que batem profundamente em mim. Acontecem coisas na minha vida que são consequências de escolhas que não são minhas. A maneira como me enxergam como mulher, mulher amarela, mulher bissexual. Esse olhar que a sociedade tem sobre mim e como reajo a isso é para que eu e ninguém como eu seja tratado dessa forma. A vida me chama para essas questões e eu vejo essa responsabilidade como algo bacana. Eu nasci assim. As pessoas que me tratam de forma pejorativa é que estão erradas.

– Você sempre fala abertamente sobre sua bissexualidade e o relacionamento não monogâmico que vive. Qual a grande importância de dividir isso com o seu público?

– Entendo que, como figura pública, as pessoas podem dar atenção ao que eu falo. Quanto mais utilizo a visibilidade para assuntos importantes para mim e que podem ser importantes para outros, que buscam referência, inspiração, um empurrãozinho, mais quero falar sobre isso. Precisamos naturalizar. Eu quero ser vista como asiática e normal. Bissexual e normal. Quero que minha relação não monogâmica seja vista como normal. Cansei de ser tachada de anormal, diferente, ter essa sensação de não pertencimento. Quando falo publicamente, não é para polemizar, é pura e simplesmente para normalizar minha existência e trazer esse conforto para quem se identifica com isso. Não sou a única e não preciso que outros se sintam assim. Não estamos sozinhos.

– Você é seguida por um público jovem, que cresceu com você. É difícil corresponder às expectativas deles?

– Não é difícil. São os melhores fãs que eu poderia imaginar. Eles cresceram junto com a gente e têm a compreensão que as personagens, agora, são adultas e têm outras tramas e histórias. Eu brinco com a Daphne Bozaski (colega de As Five e da nova novela) que não estamos mais no núcleo jovem, agora somos do núcleo adulto! Acho que o público sente a necessidade de ver a gente crescer, dentro dos personagens e da carreira. Essa expectativa vai ser atendida nesse novo trabalho. O público, com certeza, terá saudade das Five, mas vai nos ver em outros trabalhos, em outro patamar, trabalhos mais maduros.

– Todas as pessoas, especialmente as mulheres, sofrem com as imposições e padrões de beleza. Como isso te afetou ao longo da vida e da profissão?

– Em relação à beleza, tenho aprendido muito nos últimos anos. Nunca me enxerguei nesse lugar. Sempre tive dificuldade de me sentir bonita ou fashion. Um corpo como o meu não estava nos lugares de referência de beleza... Era muito difícil ver uma mulher asiática numa capa de revista. Sempre me falavam que eu era exótica e eu ficava ofendida com isso. Não é um elogio. A maneira como minha beleza era tratada era sempre a de apontar como eu estava fora do padrão. Quando eu trabalhava com publicidade, chegava ao set de gravação e via coisas muito estereotipadas. Quando iam fazer a minha maquiagem, me diziam que não sabiam maquiar orientais. Só fui aprender a me maquiar há poucos anos, com a caracterização da Globo. Entendi que é possivel, que não tem nada de misterioso. Sempre achei muito curioso como as pessoas me viam e comentavam sobre a minha aparência. Estou fazendo as pazes com isso, me vendo em outro lugar, aceitando esse espaço. Estou me apaixonando por moda, entendendo que consigo me expressar. Não acho mais que seja um lugar de futilidade. Achava que todos tinham que se vestir igual, essa imposição de feminilidade que eu não concordava. Minha mãe achava que eu tinha que ser uma Barbiezinha e eu nunca fui assim. Sempre detesteirosa! Sempre fui muito autêntica. Entendi que, hoje em dia, dá para estar nesse universo fashion se vinculando a valores com que eu me identifico, com as histórias que eu quero contar.

– O que você planeja e espera para o futuro, seja em âmbito pessoal ou profissional?

– Eu sonho muito grande. Tenho muitos desejos para a minha carreira. A minha paixão pela atuação veio pelo cinema nacional. Meu pai é professor de cinema na USP. Minhas primeiras referências vieram disso. Minha meta é entrar para o cinema nacional, fazer um filme aqui. Estudo muito, sou fluente em inglês e espanhol e estudo francês. Também quero traçar a minha carreira fora do País. Este ano, se não fosse a novela, ia me mudar para Los Angeles para fazer um curso de atuação. Já estava tudo alinhado. Tenho esse objetivo. Sei que nada cai do céu, temos que correr muito atrás. Sempre vi minha carreira dessa maneira. Tem uma frase de Shakespeare que é um eco na minha carreira: “Estar pronta é tudo”. Se lá na frente, eu sei que vou fazer uma personagem que canta e anda de moto, já estudo canto e aprendo a dirigir agora. Tenho um sonho de trabalhar com dublagem. O primeiro dinheiro próprio que ganhei, investi nisso. É uma questão de sorte e preparo.

MAKE: ADRIANO MANQUES, STYLING: LARISSA BANEVENUTO, CONJUNTO BEGE TISSÉ, TOP E SAIA: ATELIÊ MÃO DE MÃE, BRINCOS: A.CUADRO, VESTIDO TISSÉ, VESTIDO PATBO

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